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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Novas companhias aéreas são lançadas nos Estados Unidos e a nova ordem da aviação mundial no século XXI...



No início do século XXI, novas companhias aéreas foram surgindo nos Estados Unidos; A JETBLUE lançou o seu primeiro vôo em fevereiro de 2000. Esta transportadora baseada em Nova Iorque tornou-se conhecida pelos seus preços baixos, considerados aviões de luxo equipados com assentos de couro e tripulantes amigáveis​​, sempre modernos. Todos os atendentes da JETBLUE receberam instruções abrangentes sobre emergências em voo, incluindo CPR e treinamento de desfibrilador externo automático. A JETBLUE oferecia também outra característica inovadora de segurança que era um serviço de telemedicina, que permite em pleno vôo, consultar diretamente com atendentes médicos especializados em voo de emergência 24 horas por dia. A empresa está na ativa até os dias atuais.

Funcionárias da JetBlue. Foto: Mullenaadversiting.
Interior das aeronaves da JetBlue.

As cores da JetBlue

Avião da EMBRAER da JetBlue.


Mapas de rotas da JetBlue

Tripulação da JetBlue

A empresa de baixo custo da Delta Air Lines, a Song, era uma empresa de baixo custo com sua base no aeroporto internacional de Orlando, com a filosofia de possuir um alto estilo em seus serviços aéreos, empresa esta inaugurada em 2003. Sua maior frota era composta pelos Boeings 757, organizados em uma única classe de serviço. Seus aviões possuiam poltronas de couro, e seus clientes eram servidos por um serviço de bordo com ingredientes orgânicos. Os uniformes da tripulação da Song foram desenhados por Kate Spade. A empresa cessou suas atividades até o dia 1º de maio de 2006, absorvida pela Delta Air Lines.
Logotipo da extinta SONG, a empresa "low-cost" da Delta Air Lines.
Boeing 757 da SONG.
Sistema IFE da extinta Song.

Em 2004, a United lançou a Ted, outra transportadora de baixo custo, cuja base primária seria Denver. No mesmo ano, a United lançou uma transportadora com serviços de primeira classe, a United Ps (Premium Service), que opera entre as cidades de Nova York e a Califórnia (Los Angeles ou San Francisco), especialmente com os Boeings 757, distribuidas em três classes de serviço: United First, United Business e United Economy Plus. Cada classe de serviço inclui certas amenidades não oferecidas em vôos regulares.
Já a Ted deixou de operar em 6 de janeiro de 2009, devido à crise aérea causada pela adição dos preços dos combustíveis e foi absorvida pela United.
Aeronave da extinta TED, a "low cost" da UNITED.
Interior de uma das aeronaves da TED.
Mapa das rotas operativas realizadas pela TED. 

Publicidade institucional da extinta TED.
Check-in da TED.

Aviões Boeing 757, utilizados pela UNITED P.S.

Cardápio distribuídos aos clientes dos voos UNITED P.S.


Terror nos céus

Em setembro de 2001, o pesadelo dos sequestros na aviação ressurgiu em sua forma mais terrível, quando terroristas comandaram quatro aviões comerciais dos Estados Unidos simultaneamente e os usaram como bombas voadoras. Milhares de pessoas de todo o mundo morreram em acidentes aéreos terríveis ocorridos na cidade de Nova York (edifícios do World Trade Center), Washington DC (mais precisamente em Arligton-Virgínia, no Pentágono) e na Pensilvânia (em um campo).

O crime hediondo trouxe o tema da segurança à tona como uma questão importante para o futuro da aviação comercial. Em novembro de 2001, foram aprovadas leis em Segurança na aviação visando reforçar a segurança tanto em terra quanto em voo. Em 2003, o FAA reforçou essa lei e com consequente aprovação, incluindo uma disposição em que, autoriza a organização (FAA) a emitir uma licença de qualificação em obrigatória para cada comissário de bordo para qualquer voo nos Estados Unidos. Com isso, finalmente, os comissários de bordo conseguiram o oficial reconhecimento como profissionais da indústria.

Com os acontecimentos do 11 de setembro de 2001, criou-se uma nova ordem mundial em todas as empresas aéreas...

Novos Designs

Com o supersônico Concorde desprezado nas as páginas da história da aviação, a indústria parece estar centrada na concepção de aviões maiores para transportar ainda mais passageiros. Com sucesso absoluto, o Airbus A380 iniciou o seu programa de ensaios em vôo a partir de 2005. O "superjumbo", avião de dois andares pode transportar 558 assentos, ou mais dependendo da configuração da empresa que o adquirir. As primeiras amostras do Airbus A380, eram apresentadas com cabines espaçosas para os passageiros com camas, armários, estações de trabalho privadas, e vestiários. Com sede em Dubai, a Emirates foi a primeira companhia aérea a adquirir os novos A380, com 45 aeronaves encomendadas em 2005, e início de seus serviços marcada para iniciar no ano de 2007.
A NASA continua trabalhando na criação de sua aeronave chamada Blended Wing Body (BWB), uma aeronave de formato triangular que poderá transportar até 800 passageiros.
Uma das características interessantes da BWB são os assentos que permitem ter um mesmo ponto de visão do que o piloto.

Uma “agitação” dos estilistas de uniformes



Em todo o mundo, as companhias aéreas receberam o novo século com novos e ousados uniformes. A Gulf Air, empresa com base em Bahrain estreou seu uniforme Balmain, criado em 2002. A extinta Song da Delta estreou um uniforme da estilista Kate Spade, criado em 2003. Em seu projeto para a British Airways em 2004, Julien Macdonald deu seu toque pessoal aos uniformes femininos com a opção de usar saia ou calças, e criou um uniforme especialmente desenhado para pilotos femininos.

Em 2005, as tendências de marcas e dos estilistas continuaram com um número considerável de novas e elegantes tendências de moda. Após 17 anos sem grandes mudanças, a Air France contratou Christian Lacroix para criar um guarda-roupa novo e abrangente para seus 36 mil funcionários (na época) entre tripulação de voo e de terra.


Gianfranco Ferré projetou novos uniformes para a Korean Air, que visam dar aos clientes uma sensação de serenidade, bem-estar, e prazer com sua cor suave e silenciosamente luminosa. Richard Tyler deu à Delta um olhar pessoal elegante e moderno, em 2005, que incluiu vestidos vermelhos envoltos por um tafetá preto, e os ternos e outros vestidos com detalhes vermelhos.



Visões de um Futuro

Os “layouts” dos aeroportos terão de ser modificados, ampliados para acomodar os novos aviões e as multidões de passageiros que eles transportam, deveriam ser contratados funcionários adicionais de terra (com experiência, técnicos, hospitaleiros, poliglotas, com salários generosos – atualmente muito raro, ocorrendo ao contrário) e, instalações cada vez maiores que certamente são necessários.
Pensando um pouco longe, talvez a aeronave do futuro tenha novos servidos, novos entretenimentos e otimizados para vôos longos.

Os passageiros em um aeroporto do futuro poderão fazer compras em um amplo shopping center com marcas mundiais, comprar presentes exóticos e produtos de lugares distanets do globo, ou deguste em uma praça de alimentação com restaurantes do mundo todo. Eles poderão ir para uma ampla academia para um treino, ou dar umas braçadas antes de fazer um voo de 14 horas sem escalas. Poderão apreciar algum filme ou espetáculo em um cinema ou teatro em 3-D, ou mesmo jogar blackjack em um dos quartos temáticos inspirados nos hotéis de Las Vegas que estão de volta de uma forma tão popular neste novo século. Os passageiros do futuro poderão optar pela privacidade em seus camarotes para conhecer os melhores museus do mundo, navegar através das revistas mais importantes, na língua de sua escolha, ou trabalhar, como nos seus escritórios durante o vôo, com acesso via satélite completo...


É difícil prever o futuro, mas uma coisa é certa: são os comissários de bordo, que estarão nas linhas de frente nas viagens aéreas, oferecendo ao público segurança, serviço, e de preferência um sorriso cordial e prestativo. Será que é tão difícil? Atualmente, com certeza...

Terminamos, com a matéria acima, um amplo documentário publicado em nosso blog sobre a história dos comissários. Abaixo, faço um breve resumo destas matérias e, em seguida, posto algumas reportagens que foram publicadas pelas revistas e jornais do Brasil sobre a profissão dos comissários, o trabalho e a moda, com histórico. Vale a pena dar uma conferida...
Resumo:


Em 1930, uma jovem mulher chamada Ellen Church, nascida na cidade de Cresco, no estado americado de Iowa, encontrou com um alto executivo da Boeing Air Transport, Stevie Stimpson, convencendo-o em contratá-la como a primeira “anfitriã” do mundo em uma companhia aérea. Com isso, criou uma nova profissão, e começou uma mudança revolucionária na percepção do público sobre as mulheres no trabalho.




A profissão de comissária foi quase que, instantaneamenteglamourizada” na cultura popular. As três categorias mais altas de trabalho (comissária, atriz e modelo) aspiravam mulheres jovens até os anos 1960. Mas, na realidade, a profissão não era assim cheia de “glamour”. As supervisoras das empresas aéreas constantemente pesavam ​​e mediam suas comissárias. Com aproximadamente 30 anos, eram "aposentadas", pois posteriormente iriam casar e ficar grávida, constituindo-se assim, fundamentos para a demissão imediata.

Mudanças - legalmente e perceptualmente-se foram abundantes nas últimas décadas. E por tudo isso, comissários de bordo prestam seus bons serviços, tudo realizado a milhares de metros de altura. Além dos serviços comumente prestados, já fizeram partos, foram testemunhas de casamentos à bordo, participaram de sequestros, sempre com alto profissionalismo ganhando posteriormente o respeito de todos os cantos do mundo nas viagens aéreas.

Contrastes: Avião da THAI com a sua pintura "retrô" e tripulantes com uniformes atuais.


Nas asas do glamour
Matéria publicada pelo jornal "Estado de São Paulo" em 1º de setembro de 2008.
Foto de propriedade de Elissa Stein, autora do livro "Stewardess".

Prestativas e deslumbrantes. Assim eram as aeromoças dos anos dourados da aviação

O compositor Billy Blanco dedicou uma canção a elas, Aeromoça, eternizada na voz de Dick Farney, e que por sinal foi casado com uma ex-aeromoça. A Panair, uma das mais prestigiadas empresas brasileiras, inspirou Milton Nascimento e Carlos Drummond de Andrade. Em 1950, a profissão dos "anjos da guarda" da aviação perdia somente para a de modelo e estrela de cinema.

Quer fetiche maior do que máquinas voadoras e lindas mulheres ? A Branniff, visionária companhia texana, contratou o estilista Emilio Pucci entre1965 e 1974 para repaginar o uniforme de suas hostess, como as aeromoças eram chamadas. Foi uma revolução fashion e tanto. Muitas cores, muitas mínis, muitas botinhas de verniz. Apenas o uniforme batizado de Gemini 4 não animou as moças. Ele era composto de um incômodo capacete em forma de bolha transparente, homenagem aos astronautas. Nas asas da Braniff, outras companhias copiaram a moda e logo as principais maisons emprestavam seus nomes aos uniformes de bordo.

No Brasil, o costureiro Amalfi criou entre as décadas de 1980 e 1990, uniformes para as principais companhias, como Varig, Transbrasil, TAM e Aerolíneas Argentinas. As criações mais ousadas eram para a Transbrasil, que exibiam as cores do arco-íris na cauda dos aviões. "Azulão, laranja, amarelo, lilás, rosa eram as cores mais usadas. Altas, esguias, lindas, elas vestiam muito bem um conjunto que criei de pantalona e turbante. Naquela época, cada companhia tinha a sua miss. Eram tempos glamourosos", conta Amalfi, também responsável pela supervisão do make up e cabelo das moças.

Os passageiros, por sua vez, eram mais formais e cuidadosos com o visual. Homens de negócios usavam terno e gravata e as mulheres preferiam os tailleurs. Embarcar de jeans e camiseta, nem pensar. Em tempos de turismo de massa, globalização e apagões aéreos, o glamour, os bons modos e o requintado serviço de bordo ficaram para trás. Voar perdeu o encanto, transformando-se num meio de transporte qualquer. Passageiros embarcam com desodorante vencido, camiseta regata, bermuda, chinelos e esticam os pés no encosto da frente.

Sonho de infância

Sorriso estampado no rosto, maquiagem caprichada, uniforme e cabelos impecáveis, quando se olha para elas, imagina-se quanto tempo não devem levar para se arrumar. "No começo eram duas horas, hoje em uma hora ?já? estou pronta'', conta a bela morena Mariane Iori, de 25 anos, solteira, comissária da Varig. Antes de embarcar, enquanto coloca os pés para cima por dez minutos para ativar a circulação, vai se maquiando. Nutricionista, não sucumbiu às reminiscências de infância, quando a família a levava para o típico programa paulistano de ver os aviões em Congonhas. "Trabalhava numa empresa de alimentação que servia os vôos e ficava fascinada quando entrava nos jatos das companhias." Não deu outra: o mercado perdeu uma nutricionista e ganhou uma comissária dedicada.

Jogo de cintura, diz ela, é essencial na profissão. Entre os percalços, lembra a história de um passageiro rebelde, que fumava no banheiro e que deu um show ao ser flagrado. "Nessas horas é preciso ser firme."

Milhas acumuladas

Comissárias não trocam de profissão por nada nesse mundo, e bons motivos não faltam, apesar da rotina puxada. Em um dia podem assistir à estréia de um musical na Broadway, em outra semana estão batendo pernas em Paris, ou na Suíça, saboreando um sanduíche de salmão no café da manhã, como relembra Alice Klausz. Gaúcha, solteira, 80 anos e na ativa - é voluntária da Marinha nos vôos da FAB à Antártica - trabalhou por 35 anos na Varig e até hoje é uma referência como diretora das primeiras turmas de aeromoças da empresa. "Quando comprou o avião Constellation, que inaugurou a rota Brasil-Nova York, o senhor Ruben Berta (fundador da Varig) me mandou à Suíça para estudar, a fim de implantar a primeira escola de comissárias no Brasil. Fiz a volta ao mundo com a Swissair, aprendendo e observando os costumes de cada país. Eram tempos maravilhosos. Estava apaixonada e me lembro até hoje do hotelzinho na Suíça, onde pedi salmão no café." Com senso de humor e língua afiada, não poupa críticas aos novos tempos:

- Hoje a aviação parece transporte de gado. As pessoas embarcam de bermuda, uma falta de respeito com o próximo. Quanto ao serviço de bordo, ouve-se disparates do tipo "vai querer uma Coca?" Isso são modos de se dirigir ao passageiro?

Alice voou duas vezes com o presidente Juscelino Kubitschek, com Costa e Silva e João Goulart. Sobre este último, relembra uma viagem, quando tiveram de sobrevoar Washington a uma altitude baixa. "A primeira-dama Tereza Goulart começou a enjoar e contaminou toda a tripulação. Enquanto uns corriam para o banheiro, outros lhe davam assistência. Foi um sufoco!", conta, entre risadas. Responsável pela reformulação da comida servida a bordo nos vôos do Programa Antártico, Alice é um exemplo de vida para muita garota de 20 anos. À bordo dos aviões Hércules C-130, atingiu a marca de 143 vôos ao continente gelado, inclusive na recente comitiva do presidente Lula, muitas vezes enfrentando temperaturas de até 40 graus negativos . E quando não está na terra dos pingüins? "Gosto de ler e ouvir música, como Ray Conniff, Richard Clayderman e a minha preferida, Ave Maria no Morro."

Outra veterana é Zdenka Cerny, de 71 anos, que trabalhou cinco anos na Vasp e 23 na Transbrasil. Chegou da Tchecoslováquia em 1961, trabalhou como feirante e depois numa loja, até que viu um anúncio da Vasp, que procurava comissárias. Sobre a profissão ontem e hoje, lembra que antigamente não havia uma regulamentação:

- Os vôos atrasavam, chegávamos tarde da noite, e o jeito era se hospedar num hotelzinho em frente ao aeroporto de Congonhas, para dormir, engomar a roupa e, no dia seguinte, se apresentar à companhia, nem que fosse às 5 da manhã. O lado bom era o respeito e a valorização da aeromoça, profissional de status e sempre convidada para eventos importantes.
Serviço de bordo da extinta TransBrasil em seus "moderníssimos" 727.

Também a comissária aposentada da Transbrasil, Tancy Aguiar Mavignier, de 52 anos, compara a fase áurea da profissão, nos anos 1980 e 1990, com os dias atuais:

- Antes a tripulação ficava até uma semana em cada país, hospedada em hotéis cinco estrelas. E os salários, o equivalente a R$ 6 mil, compensavam. Os passageiros eram mimados com uísque, caviar, queijos finos. Hoje as comissárias fazem até cinco, seis pousos num dia, e o salário é menor. Em função do barateamento das passagens aéreas, o máximo que se pode esperar do serviço de bordo é uma barrinha de cereais.

Segundo ela, a experiência dos veteranos deveria contar pontos na profissão. "Sinto que as mais jovens se apavoram facilmente com algum problema técnico a bordo, quando justamente deveriam transmitir segurança aos passageiros", comenta, lembrando uma ocasião em que sentiu um forte cheiro de fumaça e, sem que percebessem, chamou o chefe da equipe e tudo se resolveu sem pânico.

Às compras...

Aposentada, casada, mãe de dois filhos, Izabel Morishito Costa, de 57 anos, começaria tudo de novo. Depois de trabalhar um ano na Varig, ela foi para a Transbrasil, onde permaneceu de 1974 a 2001. Graças à profissão, aprimorou o inglês, conheceu cerca de 30 países, levou o marido e os filhos para viajar com as passagens que ganhou e se esbaldou nas compras. "Esperava as liquidações e abastecia o guarda-roupa na Zara, Mango, Nike, lojas que ainda não estavam aqui." Os uniformes fashion também deixam saudades. "Na Varig, usávamos um amarelo e outro abóbora, do costureiro Courrèges, acinturados e com recortes, na linha futurista. O traje era completo, com luvas, sapatos e bolsas marrom café." Na Transbrasil, Izabel pegou a fase das pantalonas "enormes" de Amalfi. Levava uma hora e meia para se produzir, e o ponto de encontro das garotas era num salão de beleza em Congonhas, onde faziam a maquiagem, com direito a cílios postiços, como pedia a moda.

Tempos diferentes, relembra, quando os passageiros podiam escolher entre uma dezena de marcas de licores, e pediam um uísque com água de coco, hit dos anos 70. Por sinal, o consumo free de bebidas também costumava causar pequenas turbulências a bordo. "Nessas horas tinha uma tática infalível. Chegava no ouvido do fanfarrão e, com voz firme, dizia que não serviria mais bebida, a não ser que ele quisesse ser desembarcado na próxima escala." Pito suficiente para o passageiro sossegar.

Jogo de cintura

Quando tinha 7 anos, lá em Rolândia, interior do Paraná, Luciane Tonon, comissária da TAM, costumava se deitar no chão, abrir os braços como asas de avião e, olhando para o céu, se imaginava a bordo. Formou-se em Jornalismo e Educação Física, e seguiu a primeira carreira. "Um dia, lendo uma reportagem sobre comissárias, resolvi me inscrever num curso. O que muita gente não sabe é que, além das aulas de etiqueta e maquiagem, as provas de sobrevivência no mar e na selva nada têm de glamourosas. São bem duras."

Já o feeling é algo que se adquire na prática. Quando recepciona os passageiros na porta do avião, só de olhar, já detecta aqueles com potencial de encrenca a bordo. "As celebridades, às vezes, se acham no direito de fazer o que querem, mas nós procuramos tratá-las da mesma forma que todos os passageiros, muito bem por sinal, mas sem deixar de prezar pela segurança do vôo. Mesmo que tenham chiliques, as normas e os procedimentos existem para serem cumpridos." E lembra de um caso:

- Um ator, que estava na classe econômica, queria de todo jeito um up grade para a classe executiva, mas nós não temos autonomia para isso a bordo. O procedimento só é feito em terra. Inconformado, começou a gritar: "você sabe quem eu sou? Com quem está falando?" Tentou todos os argumentos e, quando viu que não conseguiria, começou a fazer motim com os passageiros do lado, dizendo que divulgaria na imprensa, que era um absurdo um ator conhecido como ele não poder viajar na executiva. Assim ele passou boa parte do vôo falando mal da companhia.
Serviço de bordo da primeira classe da extinta VARIG.

E quando os comissários flagram um casal mais afoito a bordo ou que usa o minúsculo toalete para encenar uma cena erótica, o que fazer?

- Sempre tem aqueles casais com fetiches. Procuramos evitar que situações como essas aconteçam, como, por exemplo, não deixar que entrem duas pessoas no toalete. Quando percebemos algo mais caliente na cabine de passageiros, orientamos o casal no sentido de que eles estão em público e que temos crianças a bordo.

Entre as coisas curiosas que acontecem, o "desejo coletivo" é algo corriqueiro. "Quando um passageiro pede suco de pêssego, por exemplo, pode apostar que todos vão querer." Portanto, se um dia ouvir uma comissária falar em código com um colega: "Mike Victor, Mike Quebec", significa: "macaco vê, macaco quer." Luciane coleciona este e outros episódios divertidos do cotidiano em crônicas que escreve para o jornalzinho da tripulação.

Asas da liberdade
Matéria publicada pela revista TPM, edicão nº75.
O estilista Amalfi assinou os uniformes até os anos 80; Lúcia engravidou de um comandante; e Conceição virou chefe dos comissários.

Conceição, 23, usava vestido acima do joelho, luvas e salto sete com detalhes de seda. A passos firmes, atravessava o salão sem reparar nos homens de paletó nem nos longos das damas que os acompanhavam. Para essas pessoas, minoria brasileira com alto poder aquisitivo, aquele era um grande evento, e Conceição Alves, também conhecida por comissária Ciça, era a “anfitriã do ar”.
A cena fazia parte de sua rotina e lhe rendia, além do salário que hoje seria o equivalente a R$ 4 mil, a imagem de independência e poder. Em plenos anos 60, Conceição fazia expediente num escritório voador, era desejada por homens de todos os tipos e não tinha dia ou hora para voltar para casa. Naquela manhã, partiria de São Paulo às nove rumo ao Rio de Janeiro, com 15 poltronas ocupadas no total das 69 existentes no BAC 1-11, o avião mais popular da Transbrasil na época. A chegada seria às 11 horas e aquele era o primeiro dos dois voos diários da companhia ao destino. Conceição tinha duas horas para aprontar unhas, cabelo, maquiagem e cílios postiços no salão do aeroporto (onde tinha conta mensal) e se apresentar à chefia 45 minutos antes da partida. A bordo, o sorriso era tão obrigatório quanto o laquê domando seus fios loiros. E a aeromoça pronunciava as ainda pouco difundidas palavras de gentileza que eram suas por função.

Quarenta anos depois, Ana Paula, 31, repete praticamente o mesmo discurso ao embarcar no Boeing 737-800 da Gol – “a frota mais moderna do Brasil”, como “marqueteia” o texto – em troca de um salário estimado em R$ 2.500. Em seguida, faz o mesmo em inglês, ela é do século da globalização. Por isso, veste a blusa branca e laranja do uniforme, assinado pela estilista Gloria Coelho (antes da mudança atual), e tem o cabelo solto nos ombros, sem deixar dúvida da imagem de modernidade e praticidade que a empresa em que trabalha quer passar. A maquiagem ela mesma faz antes de sair de casa. A ordem ainda é se apresentar com 45 minutos de antecedência da partida, num dos 15 voos diários da companhia ao Rio. A rota dura menos de uma hora. Isso, claro, sem contar com excesso de aeronaves nos estacionamentos, problemas com os controladores de voo ou variações do famoso caos aéreo. O aeroporto de Congonhas (São Paulo), que nos tempos de Conceição era ponto de encontro de jovens em madrugadas pós-festas, sede de bailes de Carnaval e abrigava apenas 20% das pessoas que transitam por lá hoje, chegou a receber 18 milhões de “visitas” em 2006.

A bordo, o sorriso de Ana Paula não é opcional, mas vai e vem na velocidade com que os 162 passageiros se atropelam para localizar seus lugares. Com sapatos ou Havaianas, malas de couro ou mochilas furadas, a maioria sabe de cor as orientações para desligar os celulares, não fumar e que “em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão...”. Ninguém dá bola às boas-vindas de Ana Paula, a anfitriã de um dia comum na vida de executivos, artistas, empresários ou gente que parcelou a passagem a perder de vista.


Ana Paula de Oliveira é da geração de mulheres que não precisa de dom para trabalhar fora. E de uma geração de comissárias mais interessadas em unir o útil (ganhar dinheiro) ao agradável (viajar) do que na devoção à arte de servir com elegância e sensualidade – características que inspiraram Conceição, hoje com 62 anos. Ana Paula é do tempo em que meninas sonham ser modelo ou “celebridade”. Da década em que até na hora do almoço os pratos servidos no avião foram substituídos por barrinhas de cereal. “Banana ou coco?” é a pergunta que mais se ouve a bordo. “Na minha época, oferecíamos entradas, carne e até caviar”, lembra Conceição. Voar deixou de ser evento e se tornou hábito. Com a maior demanda – ou para atraí-la – os preços baixaram e as promoções e opções de pagamento aumentaram. O resultado é o serviço de bordo fast-food que se conhece atualmente.

A ex-comissária Izabel, que trabalhava na Varig em 1974; e Lúcia, que deixou os pais na Bahia e virou aeromoça em São Paulo, nos anos 60.
À moda da casa

Enquanto aguardava Teresa Rodrigues, coordenadora da EACON (Escola de Aviação Congonhas), a reportagem da TPM ouviu a conversa de dois recém-formados pela instituição. O tema eram empresas que viajam o mundo. A garota, com cerca de 25 anos e um currículo que incluía espanhol fluente, ensaiava uma entrevista de emprego: “Me identifico com a filosofia da companhia”, soltava entre outros clichês. O colega, de 19 anos, a interrompeu para lembrar a importância de destacar o “prazer em servir”. Em dez minutos, a aspirante a aeromoça não concluiu uma frase – em português ou espanhol – sem gaguejar. E chegou a vez de a nossa equipe falar com a coordenadora Teresa. “Antigamente, a mulher tinha que ser magra e elegante. Hoje, os jovens estão ligados à praticidade, ao fácil. De certa forma, a mulher perdeu a feminilidade. Muitas chegam aqui e sentam sem cruzar as pernas”, diz, em voz baixa, a professora de etiqueta.
Desde os tempos de Conceição, as comissárias são orientadas a usar maquiagem combinando com o uniforme. Hoje, as companhias preferem cores discretas – na Gol, batom vermelho nem pensar. Antes era comum vê-las de sombra verde ou azul, dependendo das invenções do estilista Amalfi, que por 12 anos desenhou modelitos para Varig, TAM, Vasp e, por 14 anos, para a Transbrasil. Foi ele o criador do turbante, da calça pantalona e da jaqueta de zíper, nos anos 80. A moda de ter as peças assinadas por nomes de peso voltou recentemente. Gloria Coelho está por trás da Gol desde 2001, Christian Lacroix desenhou os uniformes para a Air France em 2005 e, há um ano e meio, a clássica Marie Toscano foi procurada pela TAM. “A orientação era recuperar o glamour, a sofisticação, mas com um toque de modernidade”, diz Marie, responsável também pela substituição do coque com redinha por rabos-de-cavalo e tranças.

Topa tudo por dinheiro


A mineira Ana Paula nunca tinha visto uma aeronave de perto até ingressar na profissão. E acredita que a carreira não é para qualquer um: “Tem que ser adaptável a pessoas, a climas diferentes, a situações de estresse. A gente imagina que coloca aquela roupa e sai pra passear, mas é muito mais que isso”,diz, há sete anos no ar.
Da esq., para a dir., Lúcia e o turbante de Amalfi pra Transbrasil, nos anos 80; Ana Paula, da Gol: cabelo solto e maquiagem leve; Lúcia, atualmente; Conceição e Izabel se reencontram 25 anos depois.
Livre não só para voar


Não foi apenas maquiagem e uniforme que mudaram nos últimos 40 anos. Quando Conceição entrou na aviação, em 1968, ser comissária era ter uma liberdade rara para as mulheres da época. O psiquiatra Luiz Alberto Py, analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise, acredita que essa é uma das razões para as profissionais sempre terem povoado o imaginário masculino. “Eu mesmo tinha fetiche por aquelas mulheres independentes. Numa época em que a maioria ficava virgem até casar, as aeromoças se davam ao luxo de não dar satisfação a ninguém.” Não é de estranhar que os homens se incomodassem que suas filhas ou esposas escolhessem a profissão. “Meu pai achava maluquice, mas depois que comecei a trabalhar ficou orgulhoso”, conta Conceição, que foi promovida a chefe das comissárias em três anos. Casou-se em 1978 e, em 1982, largou o trabalho para curtir o filho de 2 anos.
Lúcia Lopes, 66, entrou na Vasp em 1962 e ficou dez anos. De lá, foi para a Transbrasil e se aposentou em 1996, ao atingir a idade máxima permitida: 55 anos. Nascida no interior da Bahia, ela deixou a família para se aventurar em São Paulo. Foi morar num pensionato, onde conheceu uma aeromoça com quem ia ao aeroporto ver os aviões pousarem e decolarem todo domingo. “Era um programa comum na época”, lembra ela, que foi convencida pela amiga a tentar a carreira de comissária. “Eu achava que era uma coisa inatingível, mas, quando vi, tinha sido aprovada na seleção”, conta. Foi entre um aeroporto e outro que se envolveu com um comandante e engravidou. “Ele não quis assumir o filho, mas realizei o grande sonho de ser mãe”, diz, enquanto segura a foto que Thiago, hoje com 29 anos, mandou da Austrália, onde mora há três.


Muito se fantasia sobre romances nos bastidores da profissão, como o vivido por Lúcia. As ex-comissárias confirmam que viajar com uma tripulação jovem, que pernoita em hotéis do mundo todo, cria um clima propício para segundas intenções. Elas acompanharam até casamentos entre colegas de trabalho. Mas garantem não conhecer aeromoças que se comportavam como garotas de programa. “Deve ter, você ouve falar, vê a pessoa chegando cansada no dia seguinte ou nem aparece para trabalhar. Mas não vi de perto ninguém fazer isso”, diz Izabel Morishito, 57, ex-comissária da Varig e da Transbrasil – onde foi da equipe de Conceição –, que se aposentou em 2001. Ela reforça repetidas vezes que é bem casada há 30 anos, e que isso é uma exceção no meio. “Meu marido sempre me apoiou. Seus amigos e familiares perguntavam: ‘Não dá pra ela largar o emprego? ’, mas ele sabia que eu estava feliz”, conta ela, que incluía o companheiro e os dois filhos em viagens à Europa.


  
Imagem do livro de Elissa Stein; na Playboy, Patrícia é a da direita; jaqueta de zíper da Transbrasil: moderna nos anos 80; e Izabel (à dir.) em 1976.
Primeira-dama

Antes de Conceição, Izabel, Lúcia, Ana Paula e Patrícia sonharem com a profissão, a americana Ellen Church estreou como a primeira “comissária-enfermeira” do mundo num voo de Oakland para Chicago, em 1930. Ela tinha “tomado aulas de voo” na época em que só homens eram bem-vindos a bordo. Foi pedir emprego a Steve Stimpson, da Boeing Air Transport, que voltava de uma longa viagem na qual sentira falta de alguém para atender os passageiros. Ele, então, teve a idéia e conseguiu autorização para criar a nova profissão feminina, apesar da resistência de alguns pilotos, que alegavam estar “ocupados demais para tomar conta de inúteis mulheres na tripulação”. Os passageiros adoraram a novidade e a profissão pegou. Não demorou para as casadas serem discriminadas. Isso porque, enquanto uma aeromoça voava a trabalho, seu marido, preocupado, ligou na casa do chefe dela no meio da noite para saber o paradeiro da mulher.

Hoje, comissárias mulheres ainda são maioria; os homens representam cerca de 30% nos processos seletivos. E, se depender dos planos de empresas como a Gol e a TAM – que devem aumentar suas frotas até o fim do ano –, a profissão continuará em ascensão. Mas as recordações românticas de Conceição, Izabel e Lúcia nunca serão vividas pela geração de Ana Paula e Patrícia, afinal essas elegantes senhoras foram protagonistas dos primeiros capítulos da história. Em compensação, no mundo de hoje, em que globalização e liberdade são palavras desgastadas, ser aeromoça deixou de ser sonho para se tornar realidade.

Conheça a "aerovelha" Alice, ativa aos 80 anos, e não perca os divertidos comentários de cabelereiros e maquiadores sobre o look das comissárias.

Do alto dos 80...
Na década de 50, ela era aeromoça da Varig. Hoje, é aerovelha do avião da FAB – Força Aérea Brasileira. Aposentada há 20 anos, Alice Editha Klausz, 80, cuida dos fartos lanches servidos a pesquisadores, militares e alpinistas que visitam a Antártica em média sete vezes ao ano. Reportagem de Ariane Abdallah.

Ela inaugurou vôos da Varig, como o Porto Alegre – Nova York, há mais de meio século. Hoje, pede por gentileza que a reportagem da Tpm mande por e-mail as perguntas desta entrevista – mas avisa que só entra no computador à meia-noite, “por questões econômicas, eu não tenho banda larga”. Assim como Conceição, Izabel e Lúcia, ex-comissárias e personagens da reportagem “Asas da Liberdade” (Tpm # 75), Alice Editha Klausz, ou Tia Alice, que completa 80 anos este mês, nunca cogitou ser dona de casa, ocupação da maioria das mulheres de sua geração. Mas ao contrário das colegas de profissão, a “aerovelha” - como ela mesma se define –, não parou de voar. Nem pretende.
Prestes a se aposentar depois de 35 anos de casa (ela ingressou na carreira aos 26 anos, em 1954), Alice estava se despedindo de um gerente da Varig, quando viu, na parede de sua sala, uma foto da estação de pesquisa brasileira na Antártica (a Estação Antártica Comandante Ferraz). “Você foi para lá?”, perguntou. “Não. Cruz credo!”, soltou o colega. Naquela época, a companhia aérea colaborava com o programa Antártico Brasileiro, fornecendo gratuitamente lanches para os participantes das missões comerem a bordo, o que justificava aquela imagem com dedicatória. Diante do silêncio de Alice, o tal colega desconfiou: “Por quê? Você gostaria de ir?”.

Foi assim que, alguns meses depois, a ex-aeromoça participou, como convidada, de um dos cerca de sete voos anuais da FAB – Força Aérea Brasileira – à Antártica. A rota até hoje é feita num Hércules C-130, avião de carga adaptado para o transporte de militares, pesquisadores, alpinistas e, eventualmente, visitantes como Alice. Ela sabia que não teria conforto naqueles bancos laterais duros, que acompanham a estrutura interna do avião. Pelo menos estava segura de que comeria bem, afinal, conhecia os lanches da Varig como a cozinha de sua casa. Mas passaram-se horas sem que ninguém lembrasse as refeições. “Foi minha maior decepção. O avião estava cheio de caixas e bagagens e, em uma das caixas, tinham uns lanchinhos mesmo”, diz, com ênfase no “inhos”. Nada além de torradas, manteiga e geleia.

Revolução dos lanches

Aquilo não poderia ficar assim. E não ficou. Na volta, ela propôs ao presidente da Varig a introdução de um serviço de bordo adequado à missão e ganhou carta branca para colocá-lo em prática. Solicitou, então, ao subsecretário do Proantar (Programa Antártico Brasileiro), 10 taifeiros da Marinha e 10 da FAB para treinar. “Até hoje eles não me deram ninguém. Preferem me convidar”.

Isso faz 19 anos. E desde então Alice aceitou 141 convites. A bordo, trabalha como voluntária, calculando as quantidades de almoços e lanches. O cardápio inclui esfiha, quiche, chocolate e chá, entre outros. Em terra, mora sozinha no Rio de Janeiro, aonde chegou em 1967. Nos cinco primeiros anos como “aerovelha”, até os hotéis e refeições eram por sua conta. Hoje, essas despesas são cobertas pela Marinha, e Alice vive do INSS. Ela perdeu a aposentadoria por causa da dívida da Varig ao fundo de pensão Aerus. “Mal dá para pagar o plano de saúde. Vendi o que podia e aperto o cinto”, brinca. Mas nem pensa em estacionar. “Gosto do relacionamento com as pessoas, de conhecer lugares, como o Chile (a cidade chilena Punta Arenas é escala da rota Rio de Janeiro – Antártica), que é fantástico. Além disso, nesses 54 anos, já voei com os presidentes Juscelino (Kubitschek, 1956 – 1961), Jango (João Goulart, 1961 – 1964), Costa e Silva (General Artur da Costa e Silva, 1967 – 1969) e agora, com o Lula (na época o presidente desta reportagem)”, diz ela, em solo há uma semana.

Sobre o atendimento das companhias aéreas de hoje, ela é direta. “É um desastre. É tudo assim: 'Vai querer? Vai querer? ' Me oferecem três barrinhas de cereal, mas não posso aceitar as três. Tenho que escolher coco, banana ou outro sabor”. Alice, que também é formada em biblioteconomia e direito, conversou com a TPM por telefone. “Estou até agora esperando o e-mail de vocês”, disse, assim que nos atendeu pela segunda vez em dois dias. Explicamos que, de fato, não mandamos, pois preferimos falar ao vivo. “Ah bom, achei que o computador estivesse mal”, diz a senhora, que não se abala com o calendário.

Na sombra das aeromoças

Cabelo armado preso com laçarote, excesso de base e sombra azul gritante. Os tempos mudaram, mas o look das aeromoças não - ou pelo menos o que deles ficou gravado na nossa mente. Convidamos especialistas no assunto a dar seus palpites sobre o visual das comissárias e contar as maiores gafes que já viram a bordo. Reportagem de Paula Rothman.

O cabeleireiro e maquiador Marcos Costa viaja toda semana de avião e tem o hobby de reparar no visual das comissárias. Certa vez teve vontade de passar um demaquilante no rosto de uma delas: “Era uma tristeza, ela usava 3 cores de sombra, esfumaçado, lápis, pele carregada com muita base e pó”, conta. Apesar da maquiagem chamar a atenção, Marcos acha o cabelo a pior parte do visual “Eu não entendo aquele frufru que cobre o coque lambuzado de gel! Envelhece a mulher em 30 anos”, comenta. O colega de profissão Celso Kamura também não concorda com a rigidez das madeixas: “Topete durinho não dá. Tem que ter o cabelo preso sim, mas algo mais jovem, simples”. Já no quesito maquiagem, o grande culpado é o padrão imposto pelas empresas, que, alegam os “comentaristas”, não respeita os traços individuas de cada uma. “Não pode combinar make com uniforme”, adverte Marcos. A tal imposição das empresas fez com que o maquiador Theo Carias presenciasse uma das piores makes aéreas em um vôo na América do Sul: “Cabelo ao natural, com rosto brilhando tipo superoleoso, com os olhos delineados com lápis de ponta grossa branca”, diverte-se. O ideal, para valorizar a beleza das comissárias, seria investir em produtos variados e treinamentos com as funcionárias. Para ter a aparência perfeita, Theo dá sua dica: “Uma pele bem feita, um rímel bem aplicado, sobrancelhas impecáveis, blushes suaves, a pele matte (sem brilho) e a boca com tom sóbrio. Só isso basta para passar uma imagem de bem estar, sem a comissária parecer personagem de história em quadrinhos”.
  
Nas asas da nostalgia
Matéria publicada pela revista VEJA, edicão nº1678, de 8 de dezembro de 2000.
As viagens de avião ficaram rápidas e eficientes, mas tem gente que não esquece o glamour do passado. Reportagem de Bel Moherdaui e fotos de Jefferson Bernardes.

 
 

Os comissários de bordo do voo à moda antiga sobre Porto Alegre promovido pelo aeroclube gaúcho: uniformes, serviço de bordo e revistas de época em avião de 1943.

Nos primórdios da aviação, voar era um exercício de paciência: viagem comprida, avião barulhento, aeroportos raquíticos. Um horror, certo? Que nada. Para os nostálgicos desses tempos heroicos, só restaram lembranças douradas. Foi mirando nesse público que o Aeroclube do Rio Grande do Sul começou a promover voos panorâmicos sobre Porto Alegre em um Douglas DC-3 de 1943. A bordo, são de época os uniformes da tripulação, inspirados nas roupas antigas da Varig, e as revistas, como O Cruzeiro e Fatos & Fotos. A viagem dura 25 minutos, mais vinte de preparação para decolar: ligar os dois motores, esquentar as turbinas, coisas que os aviões comerciais modernos aboliram há tempos. É justamente nos detalhes, segundo o passageiro Guilherme Balestrin, engenheiro de 36 anos, sem idade portanto para ter vivido semelhante experiência, que está o charme do passeio. "O serviço de bordo, as comissárias com roupas do passado, tudo contribui para nos transportar a um tempo mais romântico da aviação", suspira Guilherme, apaixonado pelo tema.

O filão da nostalgia pelos tempos antigos, com tudo o que tinham de encanto e glamour em matéria de visual, é amplamente explorado no livro Airline: Identity, Design and Culture, lançado em outubro nos Estados Unidos e na Europa. Nele, o inglês Keith Lovegrove faz um apanhado da evolução da "cara" das viagens aéreas – uniformes, logotipos, aeronaves, serviço de bordo – nos últimos setenta anos. A preocupação com os uniformes das comissárias, diz Lovegrove, aumentou no fim dos anos 50, quando foram introduzidos os Boeing 707, que comportavam mais de 100 passageiros e exigiram um serviço mais eficiente. "As aeromoças se tornaram a cara da companhia, a personificação da empresa, e sua aparência ganhou importância", explica o autor.




Chapéus da Vasp e National Airlines, estampas de Pucci na Braniff, minissaia na American, saia justa na Varig: a cara da empresa.

Para os nostálgicos da aviação e os interessados em moda, a viagem pelos diferentes estilos dos uniformes de bordo é uma delícia. A revolução de costumes que eclodiu nos anos 60 entrou com tudo porta adentro dos aviões, sob a forma de chapeuzinhos, luvinhas futuristas, meias coloridas, minissaias. Uma das coleções mais chamativas da época foi produzida pelo italiano Emilio Pucci, o rei das estampas coloridas (ressuscitadas nas roupinhas de verão deste ano), contratado pela extinta Braniff para desenhar as roupas de bordo que oferecessem "um colírio para os olhos dos cansados executivos". Nada, porém se compara, em impacto e potencial erótico, ao uniforme que a Southwest Airlines of Texas adotou em 1973: túnica, shortinho, bota branca brilhante até o joelho. No Brasil, a Varig brincou com os uniformes de suas comissárias em 1971, quando comprou novos aviões e, para chamar a atenção, criou um uniforme inspirado na "pilcha", a roupa típica do gaúcho. As comissárias usavam saia e colete azul, botas, cinto, bolsa e chapéu de couro vermelho, com aplicações de metal. No inverno, o modelito era acompanhado de um mantô xadrez vermelho e azul. Coisa de parar o aeroporto e uma dificuldade para as comissárias, que mal conseguiam movimentar-se com todo o aparato. Durou só oito meses, mas teve tempo de ganhar, naquele ano, o prêmio de uniforme do ano em um concurso espanhol.


Tailleur futurista e luvas brancas da United (1968), short e botas da Southwest (1973): na moda.

A tradição de contratar estilistas renomados se firmou, em especial nas empresas aéreas estatais que queriam reforçar a identidade nacional. A Alitalia teve, entre outras, a tesoura de Giorgio Armani, responsável pela penúltima coleção desfilada pelas aeromoças da empresa. Pierre Cardin desenhou para a Pakistan International Airways; Pierre Balmain e Ralph Lauren, para a TWA. Entre as brasileiras, a Vasp encomendou a Clodovil, em 1963, o uniforme que seu pessoal de bordo usou durante dez anos: tailleur de gabardine azul-marinho com cinto de couro, camisa branca e echarpe também branca. A partir dos anos 80, quando as viagens aéreas se popularizaram, os uniformes foram ficando cada vez mais práticos. "Modismo assusta os passageiros. A apresentação precisa, antes de tudo, inspirar segurança", explica Mário Alexandre Lemos Fochi, comissário da Vasp. "A tendência é acabar o glamour", confirma Ozires Silva, presidente da Varig, ex-piloto e fã de aviões de todo tipo. "Para as novas gerações, avião é apenas um meio de transporte e nada mais. A aura não será restaurada. Temos de olhar para a frente." Tudo bem, os tempos mudam mesmo. Mas será que não dá para ter de volta pelo menos o shortinho?
Essa série de matérias sobre a vida dos comissários de bordo do mundo todo é uma homenagem do blog "Gosto nas Alturas" a esses profissionais tão competentes, habilidosos e gostam do que fazem...

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