Ao viajar em uma missão de instrução aeroportuária a Luanda/Angola, comentei com o comissário de bordo qual era o catering que realizava o serviço de bordo para a empresa que estava voando e, para a minha surpresa, me respondeu que o serviço vinha já preparado desde a sua base original, ou seja, desde Londres. E pensei, mas como? Onde são acomodados estes trolleys, já que se oferecem os serviços a bordo desde Londres à Luanda e não há espaço para o retorno (na qual estava realizando)? Então pensei e acertei... Só pode ser no porão da aeronave (um Boeing 777-200 da British Airways). O serviço de descida, ou seja, de Londres à Luanda já foi sensacional, pois tive a oportunidade de conhecer a Business Class da empresa britânica. No retorno recebi um “upgrading” para a First Class, e o serviço era melhor ainda! Qualidade 100%, frescor, refeições no ponto, serviços servidos atenciosamente e perfeitamente, com sinergia, como uma orquestra que rege com elegância sua ópera... Na hora do descanso do “Chief Purser”, tive a oportunidade de que este me concedesse uma “minientrevista”, que muito gentilmente, me explicou em detalhes, como ocorreria essa logística fantástica que lhes relato a partir de agora, leitores de nosso blog, em uma matéria exclusiva, nunca revelada por nenhuma revista de aviação, de gastronomia, de logística ou algo parecido...Trabalhei na Sky Chefs e nunca tinha a oportunidade de observar a logística deste procedimento, além de que, as empresas em que era responsável não utilizavam esse tipo de serviço, com certeza porque São Paulo conta com excelentes empresas de catering aéreo.
No porão da parte traseira desse Boeing 777, são transportados containers isotermos, ou seja, um container refrigerado que é adquirido justamente para estas operações, para localidades onde não há como realizar os preparos dos alimentos para oferecer aos clientes. No caso, na cidade de Luanda, há um pequeno catering, onde atualmente, se está construindo, devido ao número crescente de voos, como a KLM, a Alitalia e a Iberia, a LSG-Sky Chefs Luanda.
Boeing 777-200 da British Airways. Credito da foto para Terence Li no site airliners.net.
Para esta operação logística de especial atenção, nestes containers isotermos são acomodados todos os trolleys, standard units e materiais necessários para os serviços de jantar e café da manhã. Este container é completamente autônomo, que dispõe de um compartimento onde são armazenados cerca de 190 quilos de gelo seco, que juntamente com um pequeno ventilador de refrigeração, faz circular o ar frio no interior deste container, conseguindo assim manter a temperatura adequada todos os equipamentos e a carga gastronômica que está acomodada neste. Tudo isto é controlado por uma unidade eletrônica que dispõe este importante container isotermo, e que está programado com os parâmetros adequados no momento no que é realizado o carregamento destes equipamentos em Londres.
Para isto e antes do carregamento dos equipamentos por parte do serviço de catering, o container conhecido como RAP (ou container de temperatura regulável) é pré-resfriado no interior de uma câmera fria, que se pode encontrar no terminal de carga; além disso, os equipamentos (trolleys e os standard units) também chegam pré-resfriados desde as instalações do catering aéreo.
Quando o voo chega a seu destino, no caso era Luanda, o container é vistoriado pela alfândega e passado todos os trâmites legais, o próximo passo é ajudar aos colaboradores locais do catering a identificar e descarregar do avião, os equipamentos utilizados no voo de ida para serem lavados em suas instalações. Estes equipamentos (trolleys e standard units com bandejas, talheres, copos, pratos, panos, fornos com grelhas e outros muitos utensílios), uma vez lavados, permanecem nas instalações até que chegue o momento de reacomodá-los no interior do container, quando este último for esvaziado.
O container é mantido no interior dos porões já fechado, uma vez que se descarreguem todas as malas, até umas 3 horas antes da partida do voo.
Esquema de uma aeronave simulador com porões, cabines de passageiros e motores.
Seguidamente, é iniciada a operação de descarregamento do RAP do interior do porão correspondente, seu deslocamento até uma plataforma para a sua apertura próximo à aeronave e o translado dos equipamentos desde o seu interior ao caminhão do catering, que finalmente colocará tais equipamentos nos galleys do avião. Este trabalho pode ser realmente complicado e se os voos de partida forem durante à noite, já que a iluminação desta zona das pistas não é a mais adequada, mas com certeza já muitas pessoas experiências na realização de tal esmero trabalho que os clientes e os interessados no assunto nem tem noção.
Minha irmã, antiga supervisora do entretenimento de bordo e depois comissária da VASP, ao ter comentado sobre o assunto, me disse que esse trabalho já era usado em tempos passados na empresa, onde não havia serviço de catering nos voos para Havana e Aruba da empresa, operados pelos antigos A300 (abandonados por exemplo, no aeroporto de Congonhas/São Paulo!
Airbus A300 em Congonhas. Credito da foto para André Duailibi no site airliners.net.
Propaganda VASP na ocasião do lançamento das operações do A300, aeronaves compradas pelo governo de São Paulo, do então governador Paulo Salim Maluf, com aval do BNDS.
Exemplo de um container RAP.
Cubo dimensional do "RAP".
Conteiners RAP da Korean AIR
Interior de um conteiner RAP
INFORMAÇÕES ADICIONAIS SOBRE O CONTAINER “RAP”:
Este container é vendido pela empresa como “cubo completo interno” que pode ser utilizado para carregar equipamentos a ser refrigerados sob empilhamento; Possuí sistema de geloalimentado por bateria seca com termostato e ventilador (16 baterias UM1); Desempenho de refrigeraçãoconfiáveis, ao devido ao sistemade resfriamento patenteado; Possuí caixa de bateria e termostato equipado com tampa transparente e selado; A sua faixa de refrigeração varia entre -20 e +20 graus Celsius ou-4 e 68 graus Fahrenheit; Além dos produtos perecíveis de catering aéreo, este container é especialmente recomendado para produtos farmacêuticos, semicondutores, artes plásticas e produtos perecíveis que necessitem ser transportados em uma faixa de temperatura entre dois eoito graus Celsius ou entre 35 e 46 graus Fahrenheit; É garantida um resfriamento ininterrupto legal desde a origem até o destino; É disponibilizado um programa de cálculo de gelo seco.
Pré-acondicionamento do container RAP nos porões da aeronave.
Acima, os conteiners RAP já no interior dos porões da aeronave.
Acima, dois planos dimensionais dos containers "RAP".
Informações adicionais desta reportagem:
Ao ler esta e outras reportagens passadas, pudemos ver palavras tais como: galleys, trolleys, standard units entre outros... Abaixo, veremos definitivamente o que são estes materiais tão comuns nos caterings e as galleys (ou cozinhas de avião para os leigos), que faz parte do interior de uma aeronave...
As galleys de uma aeronave:
Cada aeronave tem o seu tipo de galley: A galley da primeira classe, as duas galleys da classe executiva e na parte de trás de um avião, uma grande galley que serve a classe econômica, no caso de uma aeronave de grande porte (A340-300). Ou duas galleys, uma na parte dianteira e outra na parte traseira, como no A320, por exemplo. Nestes setores, os comissários preparam os serviços que vem prontos do catering para ser servidos aos clientes. Nas galleys, ve-se espaços ou "buracos". Nestes espaços, que são numerados, são acondicionados os trolleys e os standard units, além de fornos, cafeteiras, e outros, como pias e gavetas térmicas que acondicionam gelo em cubos, sem deixar de mencionar as geladeiras para refrigeração de bebidas. Nas galleys, há também espaços para acondicionamento de lixo ou trolleys específicos para lixo.
Acima, dois exemplos de espaços de galleys nos interiores da aeronave.
Os trolleys de serviço:
O trolleys acondicionam as refeições dos clientes, dos tripulantes, as bebidas e outros utensílios a ser utilizados em um vôo. Existem trolleys (que são os maiores) e os "half-trolleys" que são os trolleys menores, utilizados conforme o interesse da empresa.
Trolley de serviço de bordo.
Half-trolley de serviço de bordo.
A estrutura do carrinho é composta por painéis de espuma, emoldurado por perfis extrudadosde alumínio anodizado. Cada porta aberta é mantida no lugar por ímãs, integrado nos painéis destes carrinhos (trolley). Todos os painéis são fornecidoscom um revestimento decorativo em cores padrão e especificado pelo cliente.
O conjunto do fecho tem uma alça rígida com um puxador xom um dispositivo para adicionar cadeados. O painel de bancada (parte superior) pode vir embutido por gavetas para acondicionamento de gelo seco. No seu interior, o trolley tem um painel lateral de alumínio com corredores profundos, e na sua parte baixa contém um sistema de freio.
Trolleys com gavetas que podem acondicionar latas de refrigerantes e outras bebidas ou mesmo produtos de "duty free shop".
Acima, outro esquema de trolley que será especificado abaixo...
Os standard-units:
São como "maletas" metálicas que acondicionam utensílios menores como copos, talheres, bandejas de serviço especiais ou o que a empresa aérea determinar. Geralmente são acondicionados na parte superior das galleys.
Standard-units de serviço.
A estrutura do recipiente consiste de chapas de alumínio emoldurados. Os painéis laterais de alumínio fornecem profundos corredores adaptados para as bandejas ou gavetas. A porta anodizada é equipada com um aro tratado termicamente e endurecidos por sua vez com uma trava de aço inoxidável, que é ligado ao corpo do recipiente. Para proteger o conteúdo, esse standard unit está equipado com um pino de travamento em aço inoxidável, que pode acomodar um cadeado, assim como um selo alfandegário. Todas as juntas do canto são soldadas e as costuras são seladas para evitar a vibração do painel e que se juntem sujeiras no recipiente. Há uma alça de alumínio embutida na parte superior e um puxador, como uma alça na porta, completando esse recipiente.
As standard units possuem puxadores em cima e na parte da frente (porta de abertura).
Essas "maletas" podem-se acondicionar também materiais de duty-free shop e amenidades.
Outros utensílios das galleys:
Fornos para esquentar os serviços quentes. Esquentam tanto porcelanas como formas ou "quentinhas" de alumínio. São colocados nos espaços próprios nas galleys, onde há o aquecimento com termostato.
Geralmente os fornos das aeronaves modernas são padronizados, as inserções do forno são construídas em alumínio anodizado. A frente é emoldurado por um alumínio extrudado sólido tratado termicamente. A alça de alumínio de transporte é embutida no topo, completando a unidade. Um logotipo pode ser gravado na superfície superior da inserção do forno.
Os suportes das grelhas do forno são integrados nas laterais de inserção. O painel traseiro acomoda um recorte do forno (para o sensor de temperatura). Oito grelhascabem em estes fornos, proporcionando espaço para 32 quentinhas no tamanho padrão das refeições ou 48 refeições em fornos que podem ter sua inserção estendida.
Térmicas de serviço.
Essas térmicas são projetadas para manter a temperatura do seu conteúdo, para compensar a perda de calor, pois estas unidades têm um elemento de aquecimento. Um jarro quente é projetado para manter uma temperatura do líquido entre 80 ° e 85 ° C regulado por um termostato. As unidades têm torneiras para drenagem rápida e eficiente. Nenhum isolamento entre o reservatório interior e exterior é utilizado. Existe nesta cafeteira térmica um isolamento adequado para evitar riscos devidos a altas temperaturas externas. Geralmente são utilizadas para sopas, consomés, água quente, entre outros líquidos para uso no serviço de bordo.
Exemplos visuais de esquemas das galleys:
Imagem selecionada do site airliners.net onde verifica-se uma parte de uma galley, da Lufthansa, equipada antes do início do voo e da prestação de serviços. Ve-se na parte superior as "Standard Units" e as cafeteiras. Abaixo das cafeteiras ve-se uma bancada com pia auxiliar; Na parte baixa, observa-se os trolleys e um espaço, o nde provavelmente encaixa-se o trolley-lixeira ou compactadores para as aeronaves novas.
Exemplo de uma galley do DC-4 da Delta Airlines.
Duas galleys no momento da prestação de serviços... Em pleno "vapor"... No momento da decolagem, turbolência e pouso, não deve haver nenhum material solto nas galleys. Os trolleys, gavetas e standard units devem obrigatoriamente estar presos. Observem que, acima dos trolleys por exemplo, há vários "pinos" que realizam essa segurança dos materiais, para que não se soltem durante os procedimentos citados acima...
Visão clássica também retirado do site airliners.net de um conjunto de galleys da empresa aérea Japan Air Lines (JAL), de um Boeing B747, no momento da prestação dos serviços.
Mais clássicas ainda, são as duas fotos acima, também selecionadas do site airliners.net, onde se observa esquemas de galleys de um TRISTAR L10-11, da Delta Airlines. A equipe de comissários faz a preparação dos serviços na galley da segunda foto acima. Um detalhe: essa galley fica posicionada no porão da aeronave. Ve-se em frente os elevadores onde a tripulação envia os trolleys e materiais para a tripulação que servirá os serviços aos clientes (primeira foto acima). Esses elevadores também podem transportar uma pessoa por vez.
FONTE DAS PESQUISAS:
Creditos das fotos das galleys das aeronaves para o site www.airliners.net, Emirates e Qatar.
Driessen - Galleys & Equipment que nos orientou quanto aos produtos das galleys. As fotos são de créditadas à empresa citada;
VRR Cargo Equipments, que nos orientou quanto ao acondicionamento dos itens de catering nos containers RAP. As fotos são creditadas á empresa citada.