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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Voar já foi mais agradável!

Foram quase 80 anos aprimorando os serviços de bordo, antes que milhares de passageiros fossem obrigados a pagar por tudo que, até pouco, parecia ser um direito adquirido. Este artigo mostra o momento em que o entretenimento de bordo, a alimentação e o conforto passaram a ser considerados legítima fonte de renda pelas combalidas companhias aéreas dos Estados Unidos. Adaptado por Ernesto Klotzel.


 
Não é pecar pelo exagero afirmar que o processo de deterioração dos serviços de bordo em rotas domésticas das companhias reas norte-americanas, hoje em um patamar míni- mo de qualidade, poderia ser previsto com o advento do transporte reo a jato. Os Boeing e Douglas, descendentes diretos e de geração mais moderna que os 707 e DC-8, muito mais produtivos que os equipamentos a pistão que se despediam, atraíram, com sua ampla oferta de tarifas baratas, milhões de novos passageiros em busca de novos negócios ou do puro e simples lazer. Voar tornou-se mais barato e por que não admitir? uma atividade “popular”.

 
A proliferação das companhias reas, algumas pouco competentes e outras mesmo tradicionais, com vocação predatória ou para entrar e sair com naturalidade após declararem concordata (o conhecido e benévolo Chapter 11), somada à desregulamentação do início dos anos 1980, contaminou por completo a aviação comercial doméstica e regional nos Estados Unidos. Estendeu suas mazelas aos aeroportos, tornando a maioria das viagens dentro do país um verdadeiro martírio para os passageiros. Mesmo após um processo de depuração e de “sobrevivência do mais capaz” como diria Darwin, as companhias que restam no transporte reo doméstico mal e mal conseguem sobreviver, mesmo praticando o que não passa de um transporte de massa, com investimento mínimo na qualidade dos serviços. A crise só agravou a situação de bordo, levando às absurdas condições reveladas pelas comparações que seguem.
Parece que os tempos em que voar, mesmo a negócios, significavam para muitos um prazer à parte e o embarque e desembarque não eram necessariamente pesadelos, ficaram para a memória.


Em meio à crise, o desserviço de bordo só aumentou. Nada leva a crer que se trata apenas de um fenômeno passageiro como todos esperam da situação econômica atual, que afeta muito mais do que as atividades reas.


 
ENTRETENIMENTO DE BORDO 

1929: a Transcontinental Air Transport começa a distribuir baralhos como passatempo para os passageiros.

1939: a TWA instala receptores de rádio em seus aviões para entreter os passageiros. Uma comissária era incumbida de sintonizar  as emissoras ao longo da rota.


1969: "By love possessed" da MGM é o primeiro filme exibido em um voo comercial (TWA).


1962: a American Airlines e a PanAm instalam monitores de vídeo para exibir programas pré- gravados aos passageiros da primeira classe.


1971: a American Airlines incorpora pianos eletrônicos Wurlitzer de 64 teclas no salão da classe econômica, na parte traseira de seus jatos de luxo Boeing 747. Meados dos anos 1970: a American Airlines elimina os salões com piano dos 747, pois a concentração de passageiros os torna “pesados de cauda”.

1971: com a invenção da fita cassete de 8 milímetros, a exibição de filmes torna-se disponível para os passageiros de qualquer classe.


1991: a Virgin Atlantic Airways instala monitores de vídeo nos encostos das poltronas em todas as classes.



1997: a Swissair instala o primeiro sistema de vídeo interativo de bordo.


2000: a JetBlue lança o primeiro programa de televisão ao vivo exibido em monitores nos encostos das poltronas.

2008: a US Airways remove os sistemas de entretenimento de bordo nas rotas domésticas para economizar combustível.



2008: a JetBlue suspende a oferta gratuita de fones de ouvido, passando a cobrar 2 dólares por estes.

ALIMENTAÇÃO

1928: a Western Air Express distribui a seus passageiros caixas de lanches preparados pelo restaurante Pig´n Whistle, de Los Angeles.



1936: a United Airlines inaugura a primeira cozinha de bordo.


1945: a PanAm utiliza fornos de convecção para aquecer as primeiras entradas congeladas servidas a bordo.


1973: a UTA, companhia aérea francesa, é a primeira a contratar os serviços de um chef famoso para planejar um cardápio de bordo – coq au vin, vitela com molho de creme e boeuf bourguignon.


1986: a Midwest Airlines começa a servir cookies de chocolate feitos na hora.


1987: a American Airlines elimina uma azeitona em cada salada servida a bordo – uma economia anual de 40 mil dólares.

1993: as companhias aéreas gastam, em média, 5,36 dólares para alimentar cada passageiro, 2,5% menos do que em 1992.



1999: a Singapore Airlines elimina camarões do cardápio uma economia anual de 750 mil dólares.

2001: as companhias aéreas norte- americanas eliminam toda a cutelaria de metal dos serviços de refeição de bordo.


2002: o custo da refeição por passageiro baixa para 3,82 dólares, uma queda de 11,8%.


2005: a Northwest Airlines deixa de servir "pretzels", economizando 2 milhões de dólares por ano.


2008: a companhia  US Airways começa a cobrar pela água 2 dólares por garrafa.


2008: as companhias aéreas dos EUA gastam 3,52 dólares em alimentação para cada passageiro.

 2008: a Continental é a única entre as grandes companhias aéreas dos EUA que ainda oferece refeições gratuitas na classe econômica  em voos com mais de 3,5 horas de duração.


CONFORTO


1928: as cabines dos aviões para dez passageiros da Western Air Express apresentam paredes de mogno, luzes de leitura e lavatórios.


1930: a Boeing Air Transport contrata as primeiras comissárias de bordo – todas enfermeiras diplomadas para atender a passageiros que sofram de enjoo a bordo.



1936: os espaçosos DC-3 da American Airlines têm 14 poltronas que se transformam em leitos.


1939: o hidroavião Boeing 314, para 68 passageiros, apresenta majestosos salões de estar e elegantes salas de refeições no estilo dos grandes transatlânticos de luxo.



1948: o Boeing 377 Stratocruiser tem um salão no andar inferior com bar e 28 leitos.



1957: a IATA regulamenta o pitch máximo entre poltronas 34 polegadas na econômica  e
42 polegadas na primeira classe.


1979: a Qantas lança a classe executiva, criando três tipos de serviços.

1981: a People Express, uma das primeiras companhias aéreas de baixo custo, introduz passagens a preços comparáveis a dos ônibus interestaduais. Os passageiros têm de pagar pelas refeições e pelas bagagens despachadas.


2000: a American Airlines lança o serviço Mais Espaço na Econômica, retirando duas fileiras de assentos em cada avião, proporcionando um espaço adicional de 2 a 3 polegadas para acomodar os passageiros.


2003: a American volta atrás recolocando as duas fileiras de assentos e eliminando aquelas polegadas de pitch a mais.



2006: a American, Delta e Northwest deixam de oferecer cobertores e travesseiros em seus voos domésticos.

2008: a JetBlue cobra 7 dólares pelo kit com travesseiro e cobertor.


A deplorável (embora compreensível) prática de criar um serviço à la carte à bordo que, segundo as companhias  reas dos EUA, pode gerar uma receita adicional de 100 milhões de dólares por ano, dava sinais de vida em casos  isolados a partir de 2005,  atingindo toda sua plenitude em 2008, quando assumiu proporções que pouco antes seriam consideradas impensáveis.


BIBLIOGRAFIA: Klotzel, Ernesto. Revista Flap Internacional. Edição de junho de 2009. São Paulo:Editora Spagat.

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