Foram quase 80 anos aprimorando os serviços de bordo, antes que milhares de passageiros fossem obrigados a pagar por tudo que, até pouco, parecia ser um direito adquirido. Este artigo mostra o momento em que o entretenimento de bordo, a alimentação e o conforto passaram a ser considerados legítima fonte de renda pelas combalidas companhias aéreas dos Estados Unidos. Adaptado por Ernesto Klotzel.
Não é pecar pelo exagero afirmar que o processo de deterioração dos serviços de bordo em rotas domésticas das companhias aéreas norte-americanas, hoje em um patamar míni- mo de qualidade, poderia ser previsto com o advento do transporte aéreo a jato. Os Boeing e Douglas, descendentes diretos e de geração mais moderna que os 707 e DC-8, muito mais produtivos que os equipamentos a pistão que se despediam, atraíram, com sua ampla oferta de tarifas baratas, milhões de novos passageiros em busca de novos negócios ou do puro e simples lazer. Voar tornou-se mais barato e – por que não admitir? – uma atividade “popular”.
A proliferação das companhias aéreas, algumas pouco competentes e outras mesmo tradicionais, com vocação predatória ou para entrar e sair com naturalidade após declararem concordata (o conhecido e benévolo Chapter 11), somada à desregulamentação do início dos anos 1980, contaminou por completo a aviação comercial doméstica e regional nos Estados Unidos. Estendeu suas mazelas aos aeroportos, tornando a maioria das viagens dentro do país um verdadeiro martírio para os passageiros. Mesmo após um processo de depuração e de “sobrevivência do mais capaz” como diria Darwin, as companhias que restam no transporte aéreo doméstico mal e mal conseguem sobreviver, mesmo praticando o que não passa de um transporte de massa, com investimento mínimo na qualidade dos serviços. A crise só agravou a situação de bordo, levando às absurdas condições reveladas pelas comparações que seguem.
Parece que os tempos em que voar, mesmo a negócios, significavam para muitos um prazer à parte e o embarque e desembarque não eram necessariamente pesadelos, ficaram para a memória.Em meio à crise, o desserviço de bordo só aumentou. Nada leva a crer que se trata apenas de um fenômeno passageiro como todos esperam da situação econômica atual, que afeta muito mais do que as atividades aéreas.
1929: a Transcontinental Air Transport começa a distribuir baralhos como passatempo para os passageiros.
1969: "By love possessed" da MGM é o primeiro filme exibido em um voo comercial (TWA).
1962: a American Airlines e a PanAm instalam monitores de vídeo para exibir programas pré- gravados aos passageiros da primeira classe.
1971: a American Airlines incorpora pianos eletrônicos Wurlitzer de 64 teclas no salão da classe econômica, na parte traseira de seus jatos de luxo Boeing 747. Meados dos anos 1970: a American Airlines elimina os salões com piano dos 747, pois a concentração de passageiros os torna “pesados de cauda”.
1991: a Virgin Atlantic Airways instala monitores de vídeo nos encostos das poltronas em todas as classes.
1997: a Swissair instala o primeiro sistema de vídeo interativo de bordo.
2000: a JetBlue lança o primeiro programa de televisão ao vivo exibido em monitores nos encostos das poltronas.
2008: a US Airways remove os sistemas de entretenimento de bordo nas rotas domésticas para economizar combustível.
2008: a JetBlue suspende a oferta gratuita de fones de ouvido, passando a cobrar 2 dólares por estes.
1928: a Western Air Express distribui a seus passageiros caixas de lanches preparados pelo restaurante Pig´n Whistle, de Los Angeles.
1936: a United Airlines inaugura a primeira cozinha de bordo.
1945: a PanAm utiliza fornos de convecção para aquecer as primeiras entradas congeladas servidas a bordo.
1973: a UTA, companhia aérea francesa, é a primeira a contratar os serviços de um chef famoso para planejar um cardápio de bordo – coq au vin, vitela com molho de creme e boeuf bourguignon.
1986: a Midwest Airlines começa a servir cookies de chocolate feitos na hora.
1987: a American Airlines elimina uma azeitona em cada salada servida a bordo – uma economia anual de 40 mil dólares.
1993: as companhias aéreas gastam, em média, 5,36 dólares para alimentar cada passageiro, 2,5% menos do que em 1992.
1999: a Singapore Airlines elimina camarões do cardápio – uma economia anual de 750 mil dólares.
2001: as companhias aéreas norte- americanas eliminam toda a cutelaria de metal dos serviços de refeição de bordo.
2002: o custo da refeição por passageiro baixa para 3,82 dólares, uma queda de 11,8%.
2005: a Northwest Airlines deixa de servir "pretzels", economizando 2 milhões de dólares por ano.
2008: a companhia US Airways começa a cobrar pela água – 2 dólares por garrafa.
2008: as companhias aéreas dos EUA gastam 3,52 dólares em alimentação para cada passageiro.
1928: as cabines dos aviões para dez passageiros da Western Air Express apresentam paredes de mogno, luzes de leitura e lavatórios.
1930: a Boeing Air Transport contrata as primeiras comissárias de bordo – todas enfermeiras diplomadas – para atender a passageiros que sofram de enjoo a bordo.
1936: os espaçosos DC-3 da American Airlines têm 14 poltronas que se transformam em leitos.
1939: o hidroavião Boeing 314, para 68 passageiros, apresenta majestosos salões de estar e elegantes salas de refeições no estilo dos grandes transatlânticos de luxo.
1948: o Boeing 377 Stratocruiser tem um salão no andar inferior com bar e 28 leitos.
1957: a IATA regulamenta o pitch máximo entre poltronas – 34 polegadas na econômica e
42 polegadas na primeira classe.
1979: a Qantas lança a classe executiva, criando três tipos de serviços.
1981: a People Express, uma das primeiras companhias aéreas de baixo custo, introduz passagens a preços comparáveis a dos ônibus interestaduais. Os passageiros têm de pagar pelas refeições e pelas bagagens despachadas.
2000: a American Airlines lança o serviço Mais Espaço na Econômica, retirando duas fileiras de assentos em cada avião, proporcionando um espaço adicional de 2 a 3 polegadas para acomodar os passageiros.
2003: a American volta atrás recolocando as duas fileiras de assentos e eliminando aquelas polegadas de pitch a mais.
2006: a American, Delta e Northwest deixam de oferecer cobertores e travesseiros em seus voos domésticos.
2008: a JetBlue cobra 7 dólares pelo kit com travesseiro e cobertor.
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